Quinta-feira, 20 Novembro, 2025
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BELAS MEMÓRIAS: Quem me dera ter a casa de Massangena!

Por Jornal Notícias
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O TÍTULO é, na verdade, inspirado no lamento de um jovem que desabafa no meio de outros, numa conversa trivial, que desaguou no custo de vida, problema quase generalizado, mas que não faz parte das preocupações de algumas pessoas.

No círculo de amigos houve quem questionou sobre esse sonho de um deles preferir abandonar a sua casa, o emprego que tem, em Maputo e alimentar o anseio de viver numa casa de Massangena, onde não tem nenhuma referência.

– O que deu em ti, brow? – indagou um dos amigos perplexo. Que “Xivotxongo” terás tomado para tão de repente, sem nenhum plano e nem promessa de emprego por lá, pensares morar em Massangena?

– A vida, brow! Cá tenho família, sim, emprego também, mas este meu emprego não está a dar para tanto quanto desejava para me sentir confortável. Comecei há cinco anos a construir a minha casa, no meio de tantas dificuldades e interrupções. Não consigo ter a casa no nível que tanto gostaria e, mesmo inacabada, passei a viver nela nas condições que já havia conseguido criar.

O jovem achava cada etapa da sua casa uma vitória e motivo de celebração, mesmo que tenha fechado o espaço reservado às janelas e parte das portas com blocos, de modo a habitá-la, com um mínimo de segurança.

Para ele, foi muito difícil ter as duas portas da casa, a frontal e a traseira, pois o resto continua a aguardar pela vez, quando as condições assim o permitirem, sabe-se lá quando.

É neste ambiente que o seu filho cresce e brinca, enquanto ele luta para, pedra a pedra, fazer o resto.

– Mas se no esforço do teu trabalho aqui em Maputo, perto da tua família e amigos não consegues, esperas conseguir o ideal afastando-se para Massangena?

– Há dias, fiquei bastante triste ao ver casas prontas a habitar a tornar-se escombros, não pela degradação provocada pelo tempo, mas porque elas não eram, ou melhor, nunca foram habitadas, desde que foram concluídas e entregues.

– Mas como se tornaram escombros?

– Primeiro, são desusadas mas a causa principal é, volvidos quatro anos, haver quem decidiu quebrar o gelo e, de forma não muito conveniente, chamar à atenção de quem de direito, mostrando que há gente que sofre por falta de habitação.

– Mas realmente estou a ter mais atenção nesse assunto. Qual seria mesmo a razão da não ocupação das aludidas casas?

– Para lhe ser franco não entendi lá muito bem, mas há quem diga que elas foram construidas para responder ao problema da falta de habitação que é denominador comum em muitas regiões do país e a sede de Massangena não é excepção.

Contudo, ouvi por alto que uma daquelas casas custava três milhões de meticais, dinheiro que os jovens locais certamente não teriam porque, para começar, as oportunidades de emprego são escassas e quem tem emprego não ganha ao ponto de ser elegível para comprar uma dessas casas.

– E qual teria sido a intenção de erguerem os tais edifícios justamente naquele ponto com fraco poder de compra e a esse valor?

– Brow! na verdade eu não sei dizer e se há alguém que o possa fazer, essa pessoa não serei eu. A única coisa que me ocorre é o desejo de ter uma das casas de Massangena, para nelas viver e ver meus filhotes a crescer alegres!   

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