DestaqueOpinião & Análise O TRABALHO INFANTIL: Vai estudar menino Por Jornal Notícias Há 18 horas Criado por Jornal Notícias Há 18 horas 316 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 316 GINOCA MAFUTINE TEM dias que eu paro e penso: será que ainda existe infância em promoção? Daquelas com bola de trapo, riso fácil? Ou será que agora infância é artigo de luxo, acessível só para quem tem Wi-Fi, lancheira térmica e pais que assistem à palestra sobre parentalidade positiva? Porque, honestamente, vejo umas infâncias por aí que mais parecem jornada de trabalho em mina de carvão, só que sem capacete, sem salário e sem intervalo para lanche. Ali no cruzamento, entre buzinas impacientes e motores barulhentos, um menino de uns 11 anos carrega amendoim como quem carrega pedras. Sol a pino, suor escorrendo, e lá vai ele, de carro em carro, com a inocência pendurada nos ombros, espremida entre os saquinhos de plástico. “Vai para casa, menino!”, grita uma senhora impaciente, enquanto fecha o vidro como quem tapa os olhos do menino, com os olhos ainda mais abertos que os nossos, responde: “Não posso, vovó. Mamã disse para eu vir vender para ter comida”. E o pai? Ah, esse é uma lenda, figura mítica, desaparecido no capítulo 1 da vida dele, talvez volte no capítulo 30 ou nunca. A senhora fica chocada: “Onze anos e não sabe ler?” E as outras vendedoras, com o diploma da 12.ª classe dobrado no avental, disparam a lição de moral: “Deixa o menino, vovó! Escola para quê? Nós estudamos, mas estamos aqui também, que vá vender, que ajude a mãe, pois ainda pode ser patrão no futuro”. Ah, a ironia. Em um país onde o diploma não cabe no prato, a lógica é simple, melhor um troco na mão do que um sonho no papel, criança que trabalha é chamada de “guerreira” mas guerreira de quê Janete? Da fome? E por falar em fome, ali do outro lado da rua uma jovem mãe carrega seu bebé no colo, não carrega, arrasta. O bebé parece mais leve do que o desespero dela e vai de carro em carro, com um pano amarrotado, um olhar cansado, e uma frase que rasga mais que convence: “Ajude com o que puder, só quero leite para o meu filho”. Alguns abrem a janela e ajudam, mas outros dizem que ela deveria “parar de usar o filho como desculpa”, como se miséria fosse estratégia de marketing. “Vai trabalhar, senhora”, dizem. No dia seguinte? Lá está ela, no mesmo lugar, mudou a fralda, mudou o discurso, mas a realidade é a mesma: pedir, carregar e resistir. E assim segue a infância de muitos sem recreio, sem lápis de cor e sem direitos. Enquanto isso, seguimos gritando “vai estudar, menino!” como se escola fosse questão de vontade, como se o problema fosse a criança, e não o sistema que permitiu que ela virasse mão-de-obra antes mesmo de virar gente. O menino do amendoim não precisa de conselho, precisa de protecção. E nós? Ah, nós precisamos de vergonha na cara uma vez a outra. Leia mais… Você pode gostar também Instituições financeiras sancionadas por infracções Prevalece venda de “xivotxongo” na Matola-Rio 340ml no Sunset Festival em Joanesburg Governo reage à tentativa de golpe de Estado na RDCongo DESTAQUESOpinião & AnáliseTRABALHO INFANTIL Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Kawena encerra operações em Moçambique Próxima artigo QUALIFICAÇÃO AO MUNDIAL-2026: Anunciada convocatória dos “Mambas” Artigos que também podes gostar Fauziya Fliege expõe “África e Oriente” na Itália Há 15 horas Água potável chega a mais de três mil famílias em Marracuene Há 15 horas Cerca de dois mil passaportes não reclamados em Gaza Há 15 horas Presidente de Madagáscar dissolve Governo Há 15 horas Artimisa Magaia condenada a três meses de prisão e dois milhões de... Há 15 horas QUALIFICAÇÃO AO MUNDIAL-2026: Anunciada convocatória dos “Mambas” Há 16 horas