Sábado, 25 Outubro, 2025
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ELES NA CIÊNCIA: “Quem engravida adolescentes da Manhiça”

Por Jornal Notícias
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“QUEM engravida adolescentes da Manhiça” foi o tema de um estudo realizado por uma equipa de demógrafos do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), para caracterizar o perfil sociodemográfico dos parceiros de mães adolescentes no distrito, contribuindo com evidências para orientar estratégias de prevenção de gravidezes e casamentos precoces tanto neste local quanto em contextos semelhantes.

Segundo Ariel Nhacolo, líder da investigação, durante o período analisado, o Sistema de Vigilância Demográfica (SVD) e de Saúde seguiu 54.377 adolescentes do sexo feminino (com idades entre 10 e 19 anos) e constatou que 25 por cento das meninas que tiveram filhos o fizeram com adolescentes, enquanto perto de 75 por cento tiveram filhos com parceiros de 20 anos ou mais.

Aos rapazes que se tornaram pais, constatou-se que 89 por cento tiveram filhos com raparigas adolescentes e perto de 11 por cento com mulheres mais velhas.

Outro dado importante para formulação de políticas públicas, segundo o investigador, está relacionado ao debate actual na comunidade científica sobre a definição de adolescência, tradicionalmente limitada aos 19 anos.

“Há uma discussão crescente sobre a necessidade de estender essa faixa etária até aos 24 anos. No nosso caso, se considerarmos essa definição ampliada, a proporção de meninas que tiveram filhos com rapazes adolescentes aumenta de 25,1 por cento para 76,8 e a percentagem de rapazes que engravidaram mulheres mais velhas baixa de 10,9 para 4,8”, disse.

Estes resultados, defende Nhacolo, alertam para o facto de que as campanhas de prevenção de casamentos e gravidezes prematuros devem incluir também a protecção dos rapazes.

“Verificamos, por um lado, que a percentagem de raparigas que engravidaram de outros rapazes adolescentes é alta e tem aumentado nas últimas duas décadas em Manhiça. Por outro lado, o facto de alguns rapazes engravidarem mulheres adultas sublinha a necessidade de incluir a protecção dos rapazes nos programas de combate a gravidezes e casamentos prematuros em contextos similares ao de Manhiça”, acrescentou.

O estudo baseou-se em dados do Sistema de Vigilância Demográfica (SVD) e de Saúde do CISM recolhidos entre 1998 e 2021. O mesmo analisou dados sobre a proporção de gravidezes e nascimentos em adolescentes de acordo com a idade e outras características socioeconómicas dos parceiros.

Ao longo das últimas décadas, o SVD tem sido crucial para o desenvolvimento de estudos de investigação em saúde por fornecer dados e indicadores demográficos que permitem medir o impacto das diferentes intervenções.

Permite ainda localizar e acompanhar os participantes dos diferentes estudos, monitorar tendências demográficas da população e elaborar mapas precisos da distribuição de doenças na área de estudo entre outras potencialidades. Com essa infra-estrutura, o CISM tem conseguido gerar evidências científicas sólidas que apoiam o planeamento e a implementação de políticas e programas de saúde pública a nível local, nacional e internacional.

As gravidezes e casamentos prematuros e/ou na adolescência estão entre os maiores problemas de saúde pública, representando também uma grave violação dos direitos humanos.

Moçambique é o 7.º país do mundo com mais alta percentagem de casamentos prematuros (56% de adolescentes do sexo feminino), a seguir ao Níger, Chade, Mali, Bangladesh, Guiné e República Centro-Africana. Apesar da dimensão do problema, pouco se sabe sobre o perfil sociodemográfico dos parceiros das mães adolescentes nestes países.

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