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CIDADE DE MAPUTO: “Janela do Índico” aberta aos 134 anos

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MAPUTO – esta imensa cidade, cuja janela está aberta para o Índico – completa hoje, 10 de Novembro, 134 anos de ascensão à categoria.

Cantada por músicos e declamada por poetas, porque cheia de encantos, Maputo desabrocha as suas avenidas arborizadas de acácias rubras e se transforma no espelho que reflecte a exclusiva beleza que a encerra.

Contudo, a efeméride se assinala num contexto de desafios e perspectivas, alguns dos quais tão antigos quanto a própria “cidade das acácias”.

A posição central que Maputo ocupa, por ser a capital do país e demandar um conjunto de infra-estruturas socioculturais, político-económicas e educativas, entre públicas e privadas, tornam-na num pólo estratégico para impulsionar o desenvolvimento nacional. E tudo isso desafia “Xilungwine”, como era conhecida no passado pelos seus nativos, a criar e ser um modelo de convivência com urbanidade.

Ora, fazer gestão de uma autarquia na qual habita perto de um milhão e duzentas mil pessoas, de diferentes proveniências e culturas, e para onde convergem, diariamente, tantas outras centenas de milhar, exige mais do que instrumentos selados pelo foro administrativo.

Por outro lado, a complexidade do ambiente urbano convida à frieza na reflexão dos fenómenos que a afectam e exigem profundidade de análise na busca de soluções adequadas à realidade do próprio município.

Na verdade, ao fim de 134 anos de existência, o discurso sobre a gestão do solo urbano deve ser orientado no sentido de construir-se uma cidade moderna encaixada na globalização, com acções realísticas e apropriadas às condições de desenvolvimento actual.

Até porque o que se nota é uma morfologia urbana dominada pelo desregrado comércio informal. Na sequência, o transporte semicolectivo de passageiros, com os “chapas” e vulgo “my love”, ainda transporta gente como se de gado se tratasse.

O próprio crescimento urbano, pressionado pela explosão demográfica, que obrigou à criação de novas áreas habitacionais, não foi acompanhado, na mesma esfera, por serviços sociais básicos. Em parte porque estas novas zonas não resultaram de um processo de infra-estruturação de terra, mas foram, ou ainda são, objecto de assentamentos informais que são consequência do grande êxodo na busca de um quinhão de terra para viver.

O regresso da urbanidade

HÁ décadas que este município vive confrontado com um acentuado nível de desordem e falta de urbanidade, caracterizada principalmente pela venda informal que toma os passeios e demais corredores desta urbe. Cenários que tiram a merecida honra de uma cidade galã, poética e cheia de sossego.

O ponto de partida foi a organização do comércio informal que infestava os passeios. Na simetria das suas ruas e avenidas um trabalho intenso está a ser feito com a perspectiva de reordenar e conferir beleza.

Sim, a cidade das acácias está de volta, com o seu esplendor galáctico e sua fragrância. Com a sua orla marítima a servir de “cartão-de-visitas” para os munícipes e turistas nacionais e estrangeiros, depois de um invejável trabalho de limpeza e remoção das barracas ao longo da Avenida Marginal, principalmente na zona das praias do Triunfo e da Costa do Sol.

Porém, este regresso não pode ser da exclusiva responsabilidade da edilidade. É um trabalho que precisa ser abraçado por todos, os que vivem, os que labutam, os que visitam, quiçá, mesmo os que atravessam a cidade para alcançar outros pontos do país ou além-fronteiras.

Os hábitos são difíceis de ser desfeitos, mas quando são práticas que podem nos levar ao precipício temos que nos desfazer deles. Estamos a falar de hábitos que quase se enraizaram em nós, a compra de artigos, roupa, electrodomésticos, produtos alimentares, mesmo grandes máquinas (carros), alimentos confecionados, na rua, sem olhar para as consequências futuras dessas transacções feitas “debaixo da sombra de uma árvore”, como sói dizer-se, com todos os riscos que daí possam advir, assaltos, burlas ou aquisição de artigos que não saberemos onde reclamar em caso de uma anomalia.

Entretanto, se é notável um crescimento a nível de novas infra-estruturas habitacionais e institucionais, é preocupante o abandono, a degradação e a perda dos principais símbolos que marcaram a urbe ao longo dos tempos. Um dos exemplos é o Prédio Pott, que após um incêndio, há mais de 30 anos, não teve outra sorte, tendo sido deitado abaixo, há poucos dias.

A este edifício juntam-se outras referências que se foram perdendo ao longo dos anos, quer em resultado de demolições ou devido a requalificação dos espaços. A Casa Pfaff, o Saratoga, o Alfacinha, Jhon O´rs, Casa Coimbra, Egípcio, Música Bar, o Púcaro, Águia d´ Ouro, Pingo doce, Flôr do Minho, Flor das Avenidas, Mira Flores, Colmeia, Pica Pau, Sibéria, Maracanã, a Marisqueira, Voga, o Cinema Scala, Nacional, entre outros, são alguns exemplos de espaços que se transformaram, fecharam e/ou ganharam novas nomenclaturas.

Nova dinâmica

OS 44 bairros da cidade de Maputo são o espaço onde se cruzam novas e velhas construções, gerando um aumento da demanda de espaços para habitação, comércio e serviços públicos que nem sempre encontram terra infra-estruturada para o efeito.

A zona cimento tem sido palco de novas edificações e requalificações que conferem um novo visual. Os edifícios erguidos na zona baixa, como o Banco de Moçambique, o Tribunal Administrativo e o JAT são disso exemplo.

O mesmo acontece com a Marginal, que ganhou nova vida, com a implantação de hotéis, casinos, centros comerciais e mais recentemente o Mercado de Frango e Magumba (Hilsa Kelee), que vai tirar centenas de informais da praia.

Onde antes começava o subúrbio, nos bairros da Polana-Caniço e Maxaquene, aos poucos está a ser tomado pelas novas tendências de habitação, dando a impressão de serem uma continuidade dos Sommerschield e Polana.

O desejo de residir no centro da cidade, aliado aos custos para aceder a espaços para edificar habitação condigna, levaram ao surgimento de construções ilegais que arriscam a integridade dos prédios e segurança dos utentes.

É o caso das centenas de construções que se erguem impunes nos terraços dos edifícios e outros espaços proibidos, numa clara violação às normas e posturas municipais.

Alto Maé, Malhangalene, Chamanculo e Central têm sido o epicentro da desordem e caos que se instalou, tirando a estética da cidade das acácias e jacarandás e perigando a vida dos utentes.

Se por um lado há quem tenta a todo o custo viver no centro da cidade, outros procuram os bairros em expansão, enfrentando problemas de acessibilidade e falta de serviços básicos.

A incapacidade ou falta de sistemas de drenagem para encaixe e retenção da água das chuvas continua um drama para os bairros com elevado nível freático, situação que ganha contornos preocupantes quando chove, altura em que as inundações são recorrentes.

O drama da mobilidade e estacionamento

O TRÂNSITO e estacionamento de viaturas na capital, com maior enfoque para a zona baixa, continua a ser penosa, apesar dos esforços da edilidade em encontrar soluções para o problema da mobilidade na região.

A Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMME) tem se esforçado para encontrar saídas para regular o estacionamento, mas sem sucesso. Este crónico problema alia-se também às longas filas de trânsito que se formam durante quase todo o dia, obrigando os munícipes a andarem no “relatim”, facto agravado pela crescente degradação do pavimento das rodovias.

A situação é particularmente preocupante na Guerra Popular, Zedequias Manganhela, prolongamento da Julius Nyerere e Lurdes Mutola, exigindo a tomada de medidas para não sacrificar os condutores.

Para estes problemas a edilidade está a avançar em duas frentes de intervenção, sendo a primeira a construção de silos automóveis nas entradas da cidade para servir aos residentes da Região Metropolitana do Grande Maputo e a construção de vias alternativas.

Também está em vista uma outra iniciativa, que está na fase de mobilização de financiamento, que compreende a criação de um sistema de transporte suportado por cabos, denominado FUTRAN, prevendo cobrir, numa primeira fase, 46 quilómetros nas principais rodovias.