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Sexta-feira, 29 - Março, 2024

NA ÁREA URBANA: Munícipes expostos a vários riscos com a circulação de comboios

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A LINHA férrea do Corredor de Nacala, que liga o porto de águas profundas e o interior das províncias de Nampula, Tete e Niassa, arrasta consigo riscos de vária ordem para os munícipes.  

Na cidade de Nampula, os comboios atravessam vários bairros residenciais, incluindo o centro da cidade onde se localiza a estação central dos CFM. O dia-a-dia dos munícipes tem sido tenebroso, pois, por um lado, algumas passagens de nível não têm guarda nem cancelas e, por outro, estão as zonas comerciais e residenciais a menos de 10 a 20 metros.

Aliás, o maior perigo está no mercado grossista do Waresta, onde a linha férrea atravessa o local entre o centro de vendas e a estrada de acesso, tendo já sido reportados vários casos de cidadãos trucidados por comboios.

Diariamente, para além dos comboios carregados de carvão e vazios, já de regresso, com composições de mais de 100 vagões, a linha é usada também pelos comboios de passageiros e carga, estes últimos maioritariamente com destino para o Malawi.

Não se consegue estimar o número médio de comboios diários mas, de acordo com informações populares, rondam os 20, tomando em conta os sentidos ascendente e descendente. Aventa-se a hipótese de no intervalo de uma hora passar um comboio pela zona.

Com o projecto de transporte do carvão mineral de Moatize, na província de Tete, para o terminal de Nacala-à-Velha, na província de Nampula, que movimentaria dezenas de comboios por dia, chegou a existir a possibilidade de a nova linha contornar o centro da cidade de Nampula, através de um ramal, a partir da vila-sede distrital de Rapale, até ao posto administrativo de Anchilo.

Não tendo concretizada a projecção, por alegada exiguidade de fundos do investidor, o cenário é actualmente de risco, dada a interferência de comboios na mobilidade urbana, que afecta não somente os pedestres como também veículos diversos quando pretendem passar de um lado para o outro.

Como forma de minimizar a situação, a empresa gestora da linha férrea decidiu instalar-se em zonas consideradas críticas, em termos de segurança, pontes pedonais, concretamente na chamada antiga Gorongosa, na ECMEP, nos bairros de Namutequeliua, Murrapaniua e Nampaco, para além da construção de muros de vedação ao longo da linha férrea no interior da cidade.

Entretanto, a população não usa as pontes pedonais e até vandaliza os muros de vedação para usar a via mais rápida de travessia da linha férrea.

Alguns munícipes evocam razões de segurança pelo facto de algumas pontes se encontrarem degradadas por falta de manutenção rotineira, enquanto outros afirmam que as pedonais são muito altas, ao ponto de os utentes correrem risco de cair. 

A Reportagem do “Notícias” testemunhou a vandalização de muros de vedação que acontece com frequência na zona da antiga Gorongosa, no bairro de Napipine, em Murrapaniua e no Trim-Trim, áreas em que, por sinal, os comboios passam a correr.   

“Eu não uso esta ponte pedonal. Prefiro correr o risco atravessando esta linha férrea em locais interditos como este porque a ponte não está em condições, por falta de manutenção. Até porque a estrutura metálica abana quando passamos sobre ela por sermos muitos utentes ao mesmo tempo”, disse Juliana Constantino, na antiga Gorongosa.

Para ela, o fim da interferência dos comboios na mobilidade urbana da cidade de Nampula passa pela construção de uma nova linha férrea que não atravesse a urbe, pois as pontes pedonais e muros de vedação não são alternativas seguras.

Ana Florindo, moradora do bairro de Muahivire, diz que fica triste ao ver o perigo que as pessoas correm diariamente na zona do Nasser, pelo facto de a ponte pedonal que aí foi instalada se encontrar em estado de total abandono, devido à falta de uso e manutenção.  

Maior risco no Waresta, Sipal e Trim-Trim

AS passagens de nível do Mercado Grossista do Waresta e da zona do Trim-Trim são as que maior perigo representam na cidade de Nampula, tendo em conta a movimentação de pessoas, viaturas, motorizadas e bicicletas.

Em média, acontece naquela zona um acidente por mês, com causas atribuídas aos comboios que transportam carvão mineral da província de Tete para o terminal de Nacala-à-Velha.

“No Mercado do Waresta, que é o local mais movimentado da zona norte do país, já deveria ter sido construída uma ponte pedonal para evitar mortes. Já perdemos muitas pessoas”, disse Amândio Moisés, comerciante.

O entrevistado lamentou o facto de não existir sequer sinalização horizontal nem  vertical no cruzamento entre a principal estrada que dá acesso ao mercado e a alinha férrea, para garantir mais segurança às pessoas que utilizam a passagem de nível, muitas vezes sem guarda, e evitar acidentes ferroviários.

O interlocutor revelou que há pouco tempo foi construído um muro de vedação na tentativa de minimizar os acidentes. Para ele, é uma medida paliativa, pois entende que a construção de uma ponte pedonal seria a melhor solução.

Um outro local considerado perigoso para atravessar, e que também não tem ponte pedonal, é a zona mais conhecida por Sipal.

“Mesmo com os agentes de segurança que foram destacados permanentemente para o local, o risco é iminente, pois as pessoas que vão às zonas de Napipine, Barragem, Carrupeia e até Namicopo passam diariamente por aquele local”, observou Domingos Samuel.   

Contudo, o munícipe reconheceu algum trabalho que está sendo feito neste momento pelas autoridades governamentais da província, juntamente com a empresa gestora da linha férrea, para chamar atenção aos moradores sobre os principais cuidados a ter com o comboio ao atravessarem a linha férrea.

Manuel Samuel, residente do bairro Brito, disse ter visto há pouco tempo uma pessoa de aparentemente 40 anos de idade morrer trucidada na zona de Nampaco, perto da ponte pedonal local, quando tentou transpor a linha férrea sem parar para olhar e escutar o apito do comboio que vinha muito acelerado.

Construções próximas da linha férrea

OUTRO fenómeno de risco que um dia pode resultar em tragédia na cidade de Nampula é a proliferação de construções para habitação ou uso comercial, como armazéns, lojas e barracas, no perímetro de segurança da linha férrea, situações que eram rigorosamente proibidoras anteriormente.

As construções foram gradualmente surgindo e de forma desordenada. Hoje são uma realidade em todos os bairros residenciais atravessados por linha férrea, com destaque para Namutequeliua, Napipine, Natikiri, Nampaco e Murrapaniua.

“As pessoas não estão conscientes do risco que correm ao viver expostas mesmo junto à linha férrea, que todos os dias movimenta comboios. Em caso de um acidente, serão as primeiras vítimas”, comentou João Mário, morador no bairro de Namutequlíua.

A fonte citou como exemplo o recente acidente próximo da cidade de Cuamba envolvendo um comboio que transportava carvão mineral, que resultou em perdas de vida.

Lembre-se que o Conselho Municipal da Cidade de Nampula, nos mandatos de Castro Namuaca e depois Mahamudo Amurane, chegou a embargar algumas obras e destruir outras no perímetro de segurança da linha férrea, acto descontinuado na actual gestão de Paulo Vahanle.

Não foi possível colher o posicionamento da actual gestora da linha férrea, a empresa Corredor Logístico Integrado do Norte (CLN) , por questões meramente burocráticas.

Da empresa, o “Notícias” pretendia saber, entre outros assuntos, sobre a existência de plano de manutenção de pontes pedonais, bem como de outras formas para travar a vandalização dos muros de vedação, incluindo a sua posição sobre as construções no perímetro de segurança.

No Gabinete de Comunicação e Imagem, o “Notícias” soube que a informação requerida devia ser remetida por escrito, de modo a ser analisada e respondida pela hierarquia da instituição, o que não era possível em menos de cinco dias.

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