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Quarta-feira, 27 - Março, 2024

ÁFRICA NO SUL: Morreu F.W. de Klerk, último Presidente do ‘apartheid’

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O ANTIGO Presidente sul-africano Frederik W. de Klerk, o último chefe de Estado da era do ‘apartheid’ da África do Sul, morreu ontem na Cidade do Cabo aos 85 anos, vítima de cancro, anunciou a sua fundação.

De Klerk morreu após uma batalha contra o cancro na sua casa, na zona de Fresnaye, na Cidade do Cabo, de acordo com um porta-voz da sua Fundação.

Foi de Klerk que, num discurso proferido no Parlamento da África do Sul no dia 02 de Fevereiro de 1990, anunciou que aquele que viria a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, seria libertado da prisão após 27 anos de cativeiro.

O anúncio electrizou na altura o país, que durante décadas vinha sendo desprezado e sancionado por grande parte da comunidade internacional pelo seu brutal sistema de discriminação racial, conhecido como ‘apartheid’.

Com o aprofundamento do isolamento da África do Sul e a sua economia outrora sólida a deteriorar-se, de Klerk, que tinha sido eleito Presidente apenas cinco meses antes, anunciou também no mesmo discurso o levantamento da proibição do Congresso Nacional Africano (ANC) e de outros grupos políticos anti-‘apartheid’.

Vários membros do Parlamento abandonaram nesse dia a câmara enquanto o Presidente discursava.

Nove dias mais tarde, Mandela saiu em liberdade e quatro anos depois seria eleito o primeiro Presidente negro do país, em resultado dos negros terem pela primeira vez exercido o direito de voto.

De Klerk e Mandela receberam o Prémio Nobel da Paz em 1993 pela sua cooperação, muitas vezes intensa, no processo de afastamento da África do Sul do racismo institucionalizado e em direcção à democracia. 

Na sequência das eleições de 1994, De Klerk foi vice-presidente (até 1996) de um Governo de Unidade Nacional.

O antigo presidente deixa esposa, Elita, filhos, Jan e Susan, e netos.

REACÇÕES

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu ontem que a morte de De Klerk deve inspirar os sul-africanos a reflectir sobre o nascimento da democracia e o dever de fazer cumprir a constituição.

Num comunicado colocado na página eletrónica da Presidência, Ramaphosa recordou que F. W. de Klerk teve um “papel vital” na transição da África do Sul para a democracia nos anos 1990, e tomou a “corajosa decisão” de levantar a proibição dos partidos políticos, libertar prisioneiros políticos e iniciar negociações com o movimento de libertação “sob pressão severa no sentido contrário por parte de muitos na sua área política”.

De Klerk, escreveu ainda Ramaphosa, foi “um sul-africano empenhado que (…) colocou o futuro do país no longo prazo acima dos estreitos interesses políticos”.

Também o arcebispo Desmond Tutu elogiou a “coragem” do Frederik W. de Klerk, na liderança da transição democrática do país, mas apontou a sua falta de remorsos em relação ao ‘apartheid’.

UMA MENSAGEM DO “ALÉM”

Entretanto, numa mensagem póstuma, divulgada pouco após o anúncio da sua morte, De Klerk pede “desculpas pela dor e o sofrimento, a indignidade e os danos” causados aos negros, mulatos e indianos.

“Esta é a minha última mensagem dirigida ao povo da África do Sul”, diz Frederick De Klerk no início do vídeo, colocado na página electrónica da sua Fundação.

De Klerk, que surge magro e frágil no vídeo, diz que em muitas ocasiões lamentou “a dor e a indignidade” que o regime do ‘apartheid’ provocou nas pessoas de cor na África do Sul.

“Muitos acreditaram em mim, mas outros não”, admitiu. “Por isso deixem-me hoje, nesta última mensagem, repetir: Eu, sem reservas, peço desculpa pela dor e o sofrimento, e a indignidade e os danos aos negros, mulatos e indianos na África do Sul”, declara o antigo chefe de Estado. (LUSA/SWISSINFO)

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