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Quinta-feira, 28 - Março, 2024

SOTERRADOS EM MONTEPUEZ: Restos mortais de garimpeiros foram a enterrar

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Os onze corpos de garimpeiros que morreram soterrados na prática do garimpo ilegalna área mineira pertencente à companhia Montepuez Ruby Mining (MRM), em Cabo Delgado, foram a enterrar na passada quinta-feira, na aldeia Nanhupo, no posto administrativo de Namanhumbir.

Os funerais foram realizados por amigos e outras pessoas de boa-vontade daquelas comunidades, uma vez que, muitos dos perecidos, não eram naturais do posto administrativo de Namanhumbir, masoriundos das províncias de Nampula, Zambézia e Niassa, e, entre os mortos, conta-se ainda um cidadão da Guiné- Conacri.

A nossa Reportagem, que esteve em Namanhumbir, conversou com alguns sobreviventes do incidente, que disseram ter escapado à morte, porque na altura em que os solos colapsaram se encontravam fora do poço, com sacos de camadas de areia que transportavam para processar, manualmente, através das águas dos rios.

Uma das pessoas que falou ao nosso Jornal, por sinal um cidadão da Guné-Conacri, é Torim Lamin, que se mostrou chocado com o incidente. Lamin disse ao “Notícias” que uma das pessoas que perdeu a vida, o único cidadão estrangeiro, é seu irmão legítimo.

“Estou aqui, em Namanhumbir, há quatro anos. Vim da Guiné-Conacri com meu irmão em 2016. Sempre fazíamos este trabalho de cavar rubis para vender e hoje meu irmão morreu. Não sei como vou enterrá-lo. Não tenho ninguém para me ajudar, mas acredito que o corpo do meu irmão não vai ser devorado por abutres. Pessoas de boa-fé vão ajudar-me” – disse emocionado.

No entanto, referiu que apesar de ter perdido um irmão, não vai deixar de cavar rubis.

“Vou continuar aqui,  porque aqui consigo dinheiro para resolver muitos problemas da minha vida. Foi um destino, apesar de saber que debaixo da terra, a qualquer momento posso estar bloqueado pelos solos e perder a vida”, reiterou.

Por seu turno, Benjamim Manuel, oriundo da província de Nampula, disse ter perdido um “grande” amigo que considerava irmão.

“Não sei o que fazer, ele morreu e foi quem me encorajou para vir aqui. Chegámos ontem para, esta madrugada, ele perder a vida. Entrou no buraco e eu ia o ajudando a puxar a corda do saco quando, de repente, a terra tapou todo buraco”, contou.

Benjamim Manuel disse ao nosso Jornal que para conseguir entrar na mina pertencente à MRM tive que pagar dinheiro a alguns elementos da Polícia da República de Moçambique (PRM) que controlam a área.

“Ninguém entra aqui sem pagar. Toda a gente que conseguiu entrar precisou de pagar valores que variam de 200 a 500 meticais”, referiu.

Manuel disse que os 11 corpos resgatados sem vida, com a ajuda da própria empresa MRM, que concedeu máquinas escavadoras para o efeito, são os que foram possíveis de encontrar. “Havia muita gente nos buracos. Eu acredito que há ainda corpos por debaixo da terra. Muita gente não conseguiu sair, ficou bloqueada pelos solos”, anotou.

Esta denúncia foi também corroborada por outros cidadãos que falaram ao "Notícias", os quais referiram que sem a facilitação da Polícia ninguém se atreve a entrar na zona minera da MRM.

Sobre esta denúncia, jornalistas tentaram ouvir a reacção do comandante local da PRM, apenas identificado pelo nome de Manhiça, que, entretanto, se escusou de prestar qualquer tipo de declaração.

Refira-se que os garimpeiros estão de volta à região de Namanhumbir, depois de uma operação levada a cabo pela Polícia, em 2017, que culminou com a expulsão destes operadores ilegais da região.

Nos últimos dias são, em grande número, os garimpeiros posicionados nas aldeias de Nanhupo, Namanhumbir e Nassubia, idos de vários pontos do país. Populares do posto administrativo de namanhumbir acusam as autoridades de agirem sempre em campanhas, tal como indicou Alfredo Mule, um residente local.

“Em 2017 houve uma operação que culminou com a expulsão de centenas de garimpeiros. Haviam aqui tanzanianos, malianos, congoleses, etíopes, guineenses mas, mais tarde, eles retornaram e ninguém faz mais nada”, denunciou.

A fonte fez saber que,  a partir da semana passada, estas aldeias estão a receber, por dia, mais duas centenas de pessoas que chegam de diferentes partes do país e não só.

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