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Sexta-feira, 29 - Março, 2024

De vez em quando: Saudades da Feira Popular de Maputo

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É AQUI onde os amigos se encontravam, sem necessidade de esperar pelo fim-de-semana. Nos intervalos para o almoço, os funcionários demandavam este lugar que era uma das bandeiras de diversão e restauração da cidade de Maputo. Juntavam-se e conversavam. Relaxavam as mentes. E contrariavam a ordem das coisas. Ou seja, no lugar de usarem os encontros como pretexto para um copo, serviam-se do copo como pretexto para desabafos.

Na verdade, ainda não se tinha atingido a turbulência do estado de espírito que se verifica hoje. Não havia muitas preocupações porque todos acreditavam que o futuro estava garantido. As “boladas” não eram muito visíveis. Havia muita gente honesta. Que usava a Feira Popular como tubo de escape, numa cidade que já por essas alturas mostrava sinais de que qualquer dia estaríamos apertados. Mesmo assim acreditávamos no futuro.

Havia muitas barracas onde se bebia uma boa cerveja e comia-se um bom frango assado. Aliás, a 2M desse tempo era mais saborosa do que agora. O frango também tinha um sabor especial. Cada um tinha o seu canto de encontro num espaço que era comum. Que era de todos. Os vendedores das bebidas e das comidas faziam dinheiro sem se falar de PMES. Tratavam os seus clientes com particularidade amigável, e chegou-se ao ponto em que parecíamos todos irmãos.

A Feira Popular de Maputo, na baixa da cidade, era um cartão de visitas. Acolhia estrangeiros que saíam daqui com saudades. Era um lugar cultural, que brilhava mais aos fins-de-semana, com pessoas a não quererem sair dalí. Ficavam até ao amanhecer, bebendo à farta, conversando. Quem não tivesse amigo, encontrava-o no local e quem quisesse uma amiga de ocasião podia tê-la ali também. Isto é, este lugar era um centro cultural. Recebia toda a gente, desde artistas, intelectuais, políticos, gente vulgar e chulos de toda a espécie.

Na verdade tínhamos um sítio que nos identificava. Tínhamos o prazer de estar num lugar onde a vida nos levava, sem nos cobrar muito. Na Feira Popular sentíamo-nos livres. Ao entrarmos naquele ajuntamento de casas de pasto, éramos bafejados por um outro ar. Outro ar que aliás sempre precisamos depois das jornadas laborais. Era também um refúgio. Ou melhor, quem quisesse estar longe da sociedade, vinha para aqui, pois sabia que os companheiros que ia encontrar, também fugiam da sociedade. Para relaxar a mente.

Maputo completou na última quarta-feira, dia 10 de Novembro, 134 anos de existência, com muitos problemas que, no lugar de estarem a ser mitigados, estão a aumentar. Então, nesta celebração, por eu também fazer parte da “Cidade das Acácias”, decidi fazer esta pequena homenagem àquilo que considero um verdadeiro Centro Cultural da nossa história contemporânea no pós-independência .

A Luta Continua!

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