Limpopo: Alergia às infra-estruturas

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César Langa

cesarlanga@yahoo.com.br

NAS deslocações dos dirigentes, que muitas vezes tenho acompanhado, tanto pela província de Gaza, como pelo país todo, noto o grande esmero do executivo em prover melhor conforto para os cidadãos, no exercício das suas actividades, a diversos níveis. Tenho reparado com grande satisfação que a luta por retirar os alunos do ar livre para as salas de aula, assim como do chão para as carteiras, não cessará, enquanto este desiderato não for atingido.

Da mesma forma, a humanização dos serviços de saúde, com a construção de maternidades, em quase todos os distritos, para além da edificação de vários outros empreendimentos afins, como hospitais e centros de saúde provam o comprometimento do executivo em facilitar cada vez mais a vida das populações, reduzindo distâncias em busca do básico para a sua sobrevivência.

A cobertura da rede de distribuição de água ainda está longe dos níveis desejados, mas vê-se a olho desarmado que existe alguma atenção, neste quesito, com a transformação de poços em sistemas de abastecimento de água, para além de construção de outros de raiz, para que o precioso chegue às populações. Deixem-me só abrir um parêntese, para partilhar situações (isoladas, diga-se), de algumas mulheres, em algumas zonas rurais, que se insurgem, silenciosamente, contra a abertura de furos de água, alegadamente porque já não lhes permite tempo para percorrerem quilómetros para os poços, tempo durante o qual aproveitavam colocar a “fofoca em dia”, enquanto os seus parceiros ficavam em casa…

Retomando, também tenho testemunhado a construção e inauguração de mercados, com o mínimo de condições, para o exercício de actividades comerciais num ambiente de conforto. Aliás, muito recentemente, testemunhei a entrada em funcionamento do mercado de Siaia, no distrito de Chongoene, com o corte da fita pela Governadora Margarida Mapandzene. Também já havia testemunhado evento semelhante, em Ndidiza, na sede do distrito de Chigubo, há poucos anos, pela ex-Governadora Stella Pinto Zeca.

Entretanto, para a minha indignação, estes gestos caridosos do governo não têm sido acarinhados pelos beneficiários directos. Ou seja, a pompa demonstrada na hora, os cânticos entoados na circunstância, não passam de mero exercício de hipocrisia, porque dias depois, as mesmas infra-estruturas passam para o estado de abandono, continuando, as populações, a exercerem as suas actividades informalmente, quer nas bermas das estradas, quer noutros locais pouco recomendáveis, com exposição ao perigo das pessoas serem colhidas por viaturas que circulam pelas estradas.

O mercado de Ndidiza andou com as bancas às moscas, assistindo-se ao crescimento de um “dumba-nengue”, mesmo “nas suas barbas”, com bancas informais pertencentes aos donos das bancas abandonadas.

Em Chongoene, ainda ninguém conseguiu reduzir o impacto negativo do mercado informal “Senta-Baixo”, mesmo havendo um mercado construído nas proximidades, com todas as condições criadas. Sábado passado, com toda a angústia, constatei que o mercado de Siaia não acolhe nenhum vendedor. As pessoas continuam a comercializar os seus produtos na Estrada N102, que parte de Chongoene para Chibuto. Outras optam em colocar as suas mercadorias, incluindo hortícolas, nas varandas das lojas.

Mesmo havendo uma alfaiataria anexa ao mercado de Siaia, também vi um cidadão com a sua máquina de costura na varanda de uma loja, aparentemente “caçando” as mulheres que compram capulanas, para as bainhar de imediato.

E o dinheiro que se gastou para a construção destes bens? Onde encontrar o antídoto para esta generalizada alergia às infra-estruturas, para que todos os beneficiários passem a desfrutar do conforto que estes bens oferecem e o jogo seja limpo(po)?