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Quinta-feira, 28 - Março, 2024

Sigarowane: O cálice das oito e o bolo da filha

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ESTAVA exageradamente contente. Percebia-se pela voz que pouco depois das oito da manhã, próximo do mangal, dizia da sua alegria imensa. Fora acordado com os nós dos dedos a martelar a porta da sua humilde casa edificada num canto, por assim dizer, de um grande quintal, que a ele acede, com normalidade, a senhora da limpeza. A muito custo deixou a cama para ir abrir a porta ainda não certo; a ressaca governando, o que não tem nada de surpreendente.

Era a filha e o genro. Com eles traziam um bolo, duas garrafas de vinho e uma de champagne. E o “parabéns” encheu a pequena sala e escapou para o quintal, os abraços e lágrimas. Era tanta a emoção de um pai que no dia do seu aniversário é acordado com muito amor, sorrisos verdadeiros, da filha e do genro por verem a alegria no rosto do velhote, do jovem que se tornava, naquele momento sem igual.

“Pai, hoje é o dia do teu aniversário e por isso cá estamos, a esta hora, para cortarmos o bolo contigo, e logo seguimos ao trabalho”. E cortaram o bolo e engoliram uns goles da bebida. Depois foram embora, deixando o pai com as garrafas e o bolo e a casa e o grande quintal.

E então que a essa hora pega no telefone e liga a Solomoni para dizer da sua alegria. Solomoni, hoje é dia do meu aniversário. Este aqui, na minha casa, a minha filha e o marido. Trouxeram um bolo, vinho e champagne. Cortei o bolo com a minha filha tomamos champagne. Tu és meu irmão, Solomoni. Tens que tomar um cálice agora. Estou muito contente, hoje, que completo sessenta e cinco anos de idade. Uma estrada, irmão. Boa parte dela juntos.

Agora vivo sozinho, na minha casa. Tenho um quintal muito grande, sempre bem limpinho, graças a uma senhora que sempre vem varrer e lavar a minha roupa. Sou um homem feliz, feliz e rico na tranquilidade deste quintal, deste cheiro do mangal, da música alta vinda das barracas. Circulo pelo quintal de tronco nu e calções de ganga que já foram calças até a três semanas. Os pés nus enterrados na areia branca, me devolvem a juventude. Sei que disto tudo não podes gozar, mas gozo eu, teu irmão, de matswa e guitonga.

Sou um contente e hoje ainda mais depois da vinda da minha filha e o seu marido para celebrarmos a vida.

Olha, irmão, estou a ficar sem megas, mas como te disse, vivo sozinho. Vou telefonar para a minha namorada vir buscar o bolo que a minha filha trouxe para mim. Depois vou lá pra dentro pegar num banquinho, não, dois. Uma garrafa de vinho, uma garrafa de água, dois copos e abraçar-me ao vazio que me enche de alegria e de paz. Beba um cálice, em minha homenagem. E desligou.

Solomoni não conseguiu dizer dos seus parabéns à sobrinha, que naquela manhã fez um agrado, alindou o(s) dia(s), porque Syabonga já estava fora da rede, certamente abraçado ao vazio, sentado no meio do seu grande quintal e com os pés nus enterrados na areia branca, naquele dia dezasseis de Novembro.

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