Sexta-feira, 6 Dezembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: Ainda na “ressaca” das inundações

Por admin-sn
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ANABELA MASSINGUE

(anmassingue@gmail.com)

ESCOLHI este título embora para muitos não se está sequer perante uma “ressaca” porque, na verdade, os efeitos das inundações ainda se fazem sentir na pele dos afectados e visíveis aos olhos de todos. Em conversas de qualquer esquina, o denominador comum é a chuva e as águas que nunca tinham sido vistas em outros lugares.

As lamentações, desabafos e até piadas em torno do sofrimento próprio e alheio não deixam de acontecer, em cada lugar onde há ajuntamento de pessoas.

É que tudo aconteceu de forma inesperada para muitos, pois, apesar de avisos do estado de tempo lançados, as condições climatéricas do dia que antecedeu o “ dilúvio”  na região do Grande Maputo não denunciavam absolutamente nada do que veio a acontecer.

Chora-se “lágrimas” ainda porque, entre os pertences, há muito que a natureza subtraiu por via da água trazida pela chuva, para além de danos que levarão tempo para reparar.

Caía a noite da última quinta-feira, na principal estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique, por onde centenas de pessoas são trazidas ao centro da cidade e também devolvidas à procedência, pelos meios de transporte ferroviário.

Entre vários grupos que, de forma espontânea habitualmente, se formam em cada acesso às carruagens, à espera do comboio, os debates eram em torno da situação que se abateu sobre o Grande Maputo e não só.

As conversas rolavam entre conhecidos e também estranhos. Num dos grupos de cavaqueira, alguém lamentava-se e descrevia a forma tão surpreendente como tudo aconteceu em sua casa e na zona. Falou da sua génese, explicando que no bairro onde nasceu, cresceu e até hoje vive nunca tinha visto nenhum pantanal. Mesmo depois da chuva, tudo passava logo de seguida e a vida continuava.

Mas os pantanais só não existiam porque as águas seguiam naturalmente os seus cursos e outros criados pelo Homem para evitar esta incómoda coabitação. Por um lado estiveram sempre as habitações e, por outro, os caminhos da água, razão para não haver conflito.

Depois de tanta desgraça, sempre procura-se a origem do problema e, para certos casos, aponta-se o dedo acusador aos obcecados pelo dinheiro, que venderam terrenos para habitação, incluindo espaços de passagem das águas pluviais.

Na senda das conversas, houve quem não só lamentava como também, infelizmente, celebrava o infortúnio alheio, alegando que para além das habituais vítimas, os proprietários de casas modestas, a bravura da água gerada pela “mãe” natureza, desta vez, não foi selectiva ao visitar também os afortunados.

Em jeito de gozo dizia: desta vez, a vez foi para todos. Até os ricos não escaparam. Também viram, num filme em 3D, seus sofás a flutuarem”.

Afinal, algumas pessoas vêem o sofrimento alheio em dupla perspectiva: solidariedade e celebração.

Feliz ou infelizmente, muitos dos que a natureza lhes foi “madrasta”, já tentam refazer a vida, mesmo diante de tamanha desgraça que os encontrou desprevenidos.

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