Opinião & Análise BELAS MEMÓRIAS: O ovo não se parte pai!(2) Por Anabela Massingue Há 9 meses Criado por Anabela Massingue Há 9 meses 573 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 573 DEPOIS de percorrer as ruas dos bairros Polana, Central e Alto-Maé, de regresso a Malhazine, Vadinho, o vendedor de ovos cozidos, delirava com tudo o que via à sua volta, mesmo tomado pelo cansaço de tanto caminhar e com fome. Espantavam-no os edifícios, o número de pessoas a circular pelas avenidas e a quantidade de viaturas que nunca tinha visto em Muhetane, Gaza, sua terra natal. O regresso à casa podia ter sido mais rápido, tomando o meio de transporte do terminal do Museu ao do Malhazine. Porém, restava meia dúzia de ovos no fundo do balde e o recado que recebeu nas suas aulas de iniciação ao negócio de rua, era fazer de tudo para nunca regressar com sobras para casa e isso devia se cumprir à risca. Mas enquanto olhava para a novidade que o rodeava via também gente comendo. Já se avizinhava o pôr-do-sol, sem que tivesse ingerido algo. Isso o inquietava embora quisesse chegar à casa e receber o relatório de melhor venda do dia, de modo a conquistar confiança da sua patroa. Mas o maldito bicho que a todos inquieta a cada dia que nasce, revelava-se extremamente exigente e incómodo, de tal modo que Vadinho não resistiu à tentação. Subtraiu, sem autorização, duas unidades de ovos que passavam a ser a sua primeira refeição do dia, acompanhada de água captada na torneira de uma instituição pública. Assim via o seu problema de fome minimizado. Finalmente sentia-se com energia de poder continuar a procurar os últimos clientes do dia. Há sempre quem a qualquer hora queira comprar algo para comer, esse era o conselho do Manuelito, um dos colegas de trabalho e seu mentor na venda ambulante. Entretanto, do Manuelito faltou uma coisa importante de entre as tantas que transmitia ao recém-chegado: a recomendação de nunca comer a matéria de venda. Vadinho não era sequer um menino de mão leve e de brincadeiras de mau gosto. Aquela tinha sido obra de circunstância, um imperativo da maldita fome, e também não pensou que pudesse desestabilizar as vendas por causa de duas unidades de ovos. Nesse instante a sorte o bafejava ao ponto de cruzar com três operários à saída da sua fábrica que solicitaram justamente a quantidade de ovos que restava no balde. O dia estava feito e não restava nada ao vendedor em forja, senão pedir ao seu mentor que se dirigissem ao “chapa”, de regresso a Malhazine, e assim foi. Pelo caminho, Vadinho ia soltando arrotos sucessivos até que o Manuelito questionou? Ele explicou que tinha a ver com as duas unidades de ovos que acabava de comer por causa da fome que já era tanta. “Céus! Isso é algo que nunca devias ter feito. Equivale a um crime capital, pois a tia Madú não te vai perdoar. Ouvido isso, o pequeno ficou chocado, não via mal nenhum em comer somente dois dos tantos que vendeu, mas gradualmente foi ganhando a consciência e dimensão da coisa, com as advertências do seu companheiro e mentor. O ânimo que o caracterizava se desmoronou, sobrando-lhe apenas as contas do que poderia ser da sua vida, naquela noite, uma vez no acampamento ou sua “nova empresa”. Chegados à casa o grosso da rapaziada já lá se encontrava e tinha feito as contas do dia, restando-lhe buscar o prato e se aproximar à cozinha para receber um punhado de xima e couve. Foi primeiro o Manuelito a apresentar as contas e depois ele. O seu semblante denunciava que algo não estava bom. A Madú pensou no pior – que poderia ter ficado sem a receita toda, como resultado do assalto, uma vez tratando-se de um novato na actividade.(…) Leia mais… Você pode gostar também REFLEXÕES DA MUVALINDA: Síndrome de Domingo Literacia mediática como estratégia para a eficácia da comunicação pública (1) REFLEXÕES DA MUVALINDA: Era uma vez… REFLEXÕES DA MUVALINDA: Dias melhores virão BELAS MEMÓRIASOpinião & Análise Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Simango sugere auditoria para credibilizar eleições Próxima artigo Seis mortos por afogamento em Tete Artigos que também podes gostar Santa Isabel quer estrada melhorada Há 13 horas REFLEXÕES DA MUVALINDA: Tempo de qualidade: a essência das relações interpessoais Há 5 dias Uso de pomadas clareadoras e chás já preocupam Há 7 dias Relatos sobre jogos de azar preocupam Há 2 semanas Agravar preço não é solução para o perverso “Xivotchongo” Há 2 semanas BELAS MEMÓRIAS: Matar em nome da sobrevivência Há 2 semanas