LEOVIGILDO DA CRUZ
O ACESSO ao aborto seguro continua a ser um desafio no país devido à persistência de mitos e barreiras socioculturais que condicionam a liberdade das mulheres de tomarem decisões sobre a sua saúde sexual e reprodutiva.
Embora a legislação em vigor permita o aborto em situações específicas como o risco à saúde da mulher e do bebé, casos de violação sexual, muitas não conseguem aceder a estes serviços de forma segura. A falta de informações claras e a pressão social tornam a abordagem sobre o tema um tabu, dificultando o usufruto deste direito.
Algumas crenças religiosas predominantes vêem o aborto como pecado, reforçando a vergonha e o estigma associados à interrupção da gravidez.
Outrossim, a visão moralista da sociedade influencia a forma como se lida com a questão, criando uma atmosfera de condenação para as que interrompem uma gestação.
Com isso, muitas mulheres, principalmente jovens, são privadas de procurar ajuda especializada e acabam enveredando por abortos inseguros, com uso de medicamentos não supervisionados ou métodos tradicionais, com todos os riscos que tal representa.
Por outro lado, nas áreas rurais, há acesso limitado a campanhas educativas sobre a saúde reprodutiva e direitos sexuais. A ausência de profissionais qualificados e centros de saúde adequados torna ainda mais difícil o acesso ao aborto seguro.
Assim, as mulheres frequentemente recorrem a curandeiros ou tentam métodos caseiros para interromper a gravidez, o que resulta em complicações graves, incluindo a morte.
Segundo as autoridades sanitárias, trata-se de uma situação que podia ser revertida se as raparigas recebessem orientações sobre sexualidade e contracepção.
Indicam que, como consequência da falta de informação, elas acabam engravidando cedo e, quando não dispõem de condições para manter a gravidez, recorrem a métodos clandestinos.


