Sexta-feira, 2 Maio, 2025
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CEMITÉRIOS COMUNITÁRIOS: Má conservação suscita vandalização de campas

Por Jornal Notícias
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A MAIORIA dos 2200 cemitérios comunitários existentes no município de Nampula está degradada e aparentemente abandonada. A erosão e a mata tomaram conta dos lugares sagrados, muitos dos quais transformados em esconderijos de malfeitores. 

A vereação que superintende a área reconhece o estado crítico de degradação em que se encontram e garante que haverá intervenção nos mais vulneráveis, ainda este ano, a exemplo do Cemitério de Mulapane, no Bairro Murrapaniua. Os residentes àvolta estão indignados, mas são incapazes de tomar qualquer iniciativa visando a sua correcta gestão. 

Sem sinais duma gestão adequada, segurança ou manutenção regular, os locais de repouso eterno dos mortos são usados para fins impróprios. O estado avançado de degradação e a má conservação revelam uma crise silenciosa que não só afecta a dignidade dos mortos como também a sensibilidade dos vivos. 

Enquanto os três cemitérios de São João de Brito 1, 2 e 3, localizados nos bairros de Napipine, Mutauanha e na zona do Lourenço, são geridos pelo Conselho Municipal, os restantes são da alçada das comunidades. 

Na Unidade Comunal de Muthimacanha “C”, no Bairro Murrapaniua, os túmulos do cemitério vulgarmente conhecido como Mucussa Okame estão visivelmente vandalizados, as sepulturas semi-abertas ou parcialmente destruídas, e a falta de vedação facilita a entrada de animais e de pessoas, que usam o espaço como área de passagem.

Cenário idêntico regista-se no Cemitério de Ntotta, no Bairro Mutauanha, onde se visualizam trilhos no seu interior, para além da erosão, que destrói sepulturas e arrasta, em alguns casos, restos mortais, expondo ossadas humanas, uma realidade chocante e que atenta contra a moral e as tradições locais. Os cemitérios comunitários surgiram na sua maioria de forma espontânea, em resposta à insuficiência destes locais para o descanso dos mortos. Com o surgimento de novas comunidades, sobretudo nos bairros periféricos, muitas famílias passaram a criar os seus próprios espaços para a sepultura, sem no entanto obedecer os planos urbanísticos.

Wilson Calima, líder comunitário no Bairro Murrapaniua, disse que a falta de instrumentos legais e fiscalização no uso do solo permitiram que a prática se tornasse comum. Com o tempo os espaços ganharam estatuto simbólico e tradicional dentro das comunidades, mas sem estratégias claras, eficazes e directas para a sua gestão.

Outro factor decisivo que espevitou o surgimento de cemitérios nas comunidades foram as práticas culturais e ancestrais profundamente enraizadas no seio da população. Muitas famílias preferem enterrar os seus entes queridos próximo de casa ou em terrenos consagrados pela própria comunidade, onde podem realizar rituais e manter contacto directo com os túmulos.

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