Sábado, 27 Julho, 2024
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Editorial

Por Jornal Notícias
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NAS últimas semanas, assistimos, com indignação, às conferências de imprensa convocadas pela Associação dos Profissionais de Saúde para dar o ponto de situação da greve que observa para reivindicar, entre vários pontos, a falta de material médico-cirúrgico nos hospitais.

Dentre as informações partilhadas com a comunicação social, repugna o facto de se exaltar a morte para, se calhar, evidenciar o quão a paralisação está sendo “bem-sucedida”.

Custa-nos perceber o objectivo que se pretende alcançar quando os líderes desta associação vão actualizando o número de mortes nos vários hospitais do país e, de seguida, como que a vangloriarem-se destes resultados, anunciam que vão abandonar os serviços mínimos numa clara ameaça de momentos mais severos para os pacientes.

Não pretendemos, de forma alguma, discutir o direito à greve, que, como se sabe, está consagrado na Constituição da República, muito menos debater o mérito ou demérito das reivindicações. Queremos, isso sim, manifestar a nossa indignação com a postura adoptada por aqueles que juraram valorizar a vida, mas que na hora de reivindicar os seus direitos banalizam esse bem de valor inestimável.

Entendemos que não pode, nem deve ser normal uma associação dos profissionais da Saúde vir a público anunciar a morte de mais de 1000 pessoas em 21 dias para demonstrar o impacto que a sua greve está a causar nos hospitais, porque isto é, no mínimo, imoral e chocante numa sociedade sã.

Não pode e nem devia uma associação dos profissionais da Saúde que se pretende defensora da vida ameaçar abandonar a prestação dos serviços mínimos (um direito fundamental constitucionalmente consagrado) a concidadãos enfermos que nada podem fazer para resolver as causas do diferendo.

Conforme nos referimos, o direito à greve é de todos, salvo algumas excepções bem identificadas na lei, mas também não deixa de ser estranho que uma organização que lida com a saúde humana se dê ao luxo de convocar uma paralisação por tempo indeterminado num sector tão sensível quanto este. 

É que andamos atentos às greves que ocorrem pelo mundo fora e o que se nota é que muitas delas são por algumas horas ou, na pior das hipóteses, de um ou dois dias.

O que sucede em Moçambique é vermos organizações sindicais ou profissionais a paralisarem as actividades por períodos prolongados e, pior, não se preocuparem com os serviços mínimos e, no final do mês, auferirem o salário por inteiro.

Portanto, pretendemos com esta reflexão chamar a atenção para a necessidade de se priorizar sempre o diálogo e quando for a vez da greve preservarem-se os mais altos valores ético-morais, para não chocarmos a sociedade que pretendemos servir.

Os profissionais da Saúde não devem transmitir a imagem de que se dirigir aos hospitais a estas alturas é quase sentença de morte. 

Cremos que o sucesso duma greve mede-se pelo número de profissionais envolvidos e pelos resultados obtidos e nunca pelo número de óbitos dela resultante sob pena de um dia a sociedade ter de exigir uma “cerca sanitária” a estas lideranças.

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