Sábado, 5 Outubro, 2024
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CÁ DA TERRA: Gerir a ansiedade o esmero e a dedicação (Conclusão)

Por Jornal Notícias
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FINALMENTE aterrámos nas Comores, depois de uma curta escala em Dar-Es-Salaam, exercício que o avião faz tanto na ida assim como no regresso a Addis Abeba, na Etiópia. À chegada desperta-nos a atenção o solo a queimado.

Afinal trata-se de uma ilha de origem vulcânica, por isso não podia ser diferente.

Este pedaço de terra em pleno Oceano Índico trouxe-me à memória o retrato do célebre romance de Júlio Verne, “a Ilha Misteriosa”, pois nunca antes estivera numa terra com um vulcão activo como é o Karthala, que dá nome ao ponto mais alto de Ngazidja, onde fica a capital Moroni, com mais de 2361 metros.

A última erupção aconteceu em Maio de 2006, mas as marcas ainda estão bem presentes na paisagem circundante, como sejam as rochas no percurso em que a lava se move como um rio em direcção ao oceano, ou ainda a imensidão da crosta formada junto ao oceano quando a torrente repentinamente esfria e solidifica, escondendo mistérios por debaixo da superfície coberta pelas águas.

Como é óbvio, este não é o esconderijo do submarino Nautilus e muito menos do Capitão Nemo, mas é a casa dos comorianos, resignados à sorte de conviver com o Karthala, que também é um dos motivos para o turismo que floresce no arquipélago.

Confessoo que não é fácil viver num pedaço de terra sabendo que há no subsolo uma caldeira em brasa activa, mas o dia dos locais passa e outros 365 também como se nada acontecesse.

Desde logo desperta-nos a atenção a arquitectura árabe, em quase todo o conjunto, destacando-se sobretudo nas mesquitas, edifícios públicos e monumentos, em contraste com as casas de madeira e zinco, desalinhadas e em grande número, onde vive o comum dos comorianos de baixa renda.
A população local é marcadamente islâmica, lembrando algumas das nossas cidades costeiras. Aliás, se não fosse o caso de ouvires o Francês difícil seria distinguir quem estaria a falar Comoriano ou Árabe, tal é o resultado da encruzilhada de diferentes civilizações e a sucessão de povos que ali acostaram.
Viria a saber que o Shikomoro (Comoriano) é um dialeto suahíli, mas com um maior vocabulário árabe.
Aliás, esta miscigenação deve explicar, desde logo, a generosidade, respeito e protecção com que os forasteiros são recebidos, sendo que sempre estão dispostos a compartilhar o que têm com seus convidados, como o fazia a Madame Taleb, que disponibilizou o seu condomínio para abrigar os jornalistas moçambicanos.
Mas nem tudo se passa na serenidade. Normalmente os homens nas Comores se mudam para a casa dos sogros depois de se casarem, o que significa que muitos destes ficam dependentes economicamente da família da esposa.
Nessa situação, esta tem o poder de pressionar o genro para que esteja conformado com as regras, incluindo na prática do islamismo, instituído como religião do Estado em 2018, sendo ilegal compartilhar o evangelho, a distribuição de bíblias ou materiais religiosos cristãos para os muçulmanos.
É assim al-Ittihad al-Qumuri (árabe), Udzima wa
Komori, em Comorense, e Union des Comores em Francês.
PS: Por razões de gozo da licença disciplinar, esta coluna sai também do convívio por pelo menos cinco semanas, para dar espaço ao desligar a ficha e ao merecido repouso.

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