Domingo, 6 Outubro, 2024
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Vida do “game” (1)

Por Juma Capela
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Mateus Licusse

É sexta-feira, por sinal ele saiu cedo do serviço. Aliás, antes de sair de casa pela manhã, arrumou o colman na bagageira do Ractis, Vitz, Mark x, cartão do banco em guia.

Enquanto “jhoba”, os miúdos polidores capricham o Ractis ou Alteza, limpam bem as jantes, embrilhar as rodas para além de polir o carro. Por sorte ou azar, o salário cai nessa Sexta, ai salta de felicidade.

Sai do “jhobe” directamente à ATM mais próxima a fim de sacar as primeiras “verdinhas” do dia, daí a caminho do bar para o início das festividades. Lá pede uma, não para beber, mas para matar a sede. A partir de três médias é que diz que está a começar a beber. Liga para os brothers, “broo” venha no sítio; o amigo vem, chega no bar com uma garrafa de whisky e vem acompanhado da “pita” e juntos comemoram o início da sexta-feira.

As “pitas” tomam lite, brutal, hunters gold e até mesmo whisky e cerveja; quando a barraca é off em música e ambiente ensurdecedor, o local é abandonado. À saída levanta-se poeira com rally do Mark x; que se danem os peões com a poeira inalada. A malta chega às bombas com garrafa já na metade, são por ai vinte duas e tal, entra-se no interior da loja de conveniência onde as “pitas” carregam pacotes de “simba”, chocolates e variedades de bolachas, o “gajo” paga a conta, o cartão está pronto a raspar, nem o recibo lhe interessa; vão se “batendo” as garrafas, as “pitas” entulhando os estômagos com “Simba”, tudo acompanhado do “som alto de acordar os mortos”.

É música ensurdecedora em plenas bombas de abastecimento, preferencialmente amapiano e nada de marrabenta; nem o gerente consegue manter a ordem, se não aconselhado a aceitar que mais receita seja injectada nos cofres da loja pelos curtidores. A garrafa de label também já está vazia, vem mais uma, tradicionalmente com gelo.

Porque o whisky não é como sumo, começa a roer o estômago, daí parte-se para churrasqueira, os porcos coitados que vão sendo dizimados pelos humanos, põe-se de lado a teoria bíblica de portadores de demónios. Os “tipos” mandam quilos aqui e acolá, vão se deliciando da carne acompanhada de uma boa xima para vencer o teor alcoólico que já precisa do balão para dar-se por confirmado o excesso do álcool no organismo.

Mais quilos e quilos, brutais e savanas vão fazendo cair o metical, esvaziar o bolso do “gajo”. Lá em casa, a esposa já vinha ligando desde quinze horas na tentativa de travar os habituais comportamentos do marido, mas, infelizmente, sem sucesso. O marido inventou reunião de emergência e claro, engarrafamentos, ora o pneu furou; são justificações e argumentos façanhamente típicos da malta, logo, de tanto cansada de esperar, a esposa acaba indo deitar-se.

Já são por ai duas da madrugada, a noite está “morrendo” e o novo dia, a escassas horas para nascer, já consumiram três e meia de whisky, a bebida já está por aqui, na testa, como se diz em ronga, “a byala dri la”; é quando a mente já não regula como deve ser, o tipo começa a invadir prateleiras da loja sem necessidade, levando isto e aquilo para as “pitas” também, que são insaciáveis e esfomeadas, talvez assim diria. Vão se entupindo com mais chocolates, ele paga as contas, até a qualquer uma que aparece a sua frente, raspa o cartão. E porque ninguém é mais forte que a bebida, começam a dançar pornograficamente, já demonstram as suas obscenidades, para além de urinarem de qualquer maneira tomados pelo poder nefasto do álcool.

Quatro horas o “coqueiro prestes a parir o sol”, uma das “pitas” desaparece sem deixar rasto à caminho de casa, mas ao longo da caminhada cruza-se com um grupo de “tentaceiros”, que a arrastam para o beco mais temido nas noites e praticam sexo colectivo, com todo bizarismo à mistura. São seis horas, a “pita” encontra-se estatelada no chão devido ao avançado estado de embriaguez.

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