Quinta-feira, 1 Maio, 2025
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IDOSOS DESFAVORECIDOS: Viver com o credo na boca!

Por Jornal Notícias
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A LUTA pela sobrevivência nas ruas da cidade da Beira está a assumir contornos cada vez mais dramáticos. A realidade, dura e cruel, revela-se no movimento crescente de idosos que deambulam pelas artérias do Chiveve pedindo esmolas para a sua sobrevivência. Triste é vê-los, quase diariamente, calcorreando o asfalto, às vezes em pequenos grupos, outras nem tanto, mas com o desespero tingindo os rostos.

As razões, pelo que se pode apurar, vão desde o abandono pelos familiares, falta de subsídio básico de assistência social, violência física e psicológica, acusações de feitiçaria, falta de abrigos condignos ou lares para idosos.

Para este grupo social a caridade de estranhos, traduzida em esmolas, que podem ser monetários ou em produtos alimentares, tornou-se a única fonte de sustento para aqueles que, por razões várias, já não conseguem trabalhar.

Porque membros da nossa sociedade, fomos à rua para perceber os contornos diários daqueles que têm, na solidariedade alheia, o pão de cada dia. Pelos depoimentos, fica claro que a vida está mesmo dura.

Hermínia Pondeca, de 70 anos, disse que percorre uma longa distância para chegar à cidade na busca diária de esmola, escalando igualmente lojas de agentes comerciais que lhe possam oferecer algo para comer.

Abandonada pelos filhos, a mendicidade tornou-se a única forma encontrada para a sua sobrevivência. A anosa reflecte ainda sobre as dificuldades nesta fase da vida e pede ajuda às pessoas de boa-fé para ter um abrigo seguro.

“Passo noites em locais impróprios, mereço valor na sociedade, estou a pedir pelo menos uma casa”, suplicou.

 Domingos Quembo, 77 anos, também lamenta sua situação de dependente de esmolas e diz que mora na rua desde que perdeu sua casa durante o ciclone Idai. Desde então vive nas ruas. Sem abrigo, ele clama por ajuda para a construção de uma habitação condigna.

Recordou com tristeza que sua antiga residência, em Inhamízua, foi destruída pelas intempéries e não teve nenhum apoio de familiares para a reconstrução. Destaca que muitos estão na mesma situação e não têm acesso à assistência social.

“Andamos na rua a pedir esmolas, sob muitos riscos, pois além dos acidentes que sofremos na estrada também somos ameaçados. Às vezes, passamos noites sem comer. O Governo se esqueceu de nós. Eu há dois anos que não recebo dinheiro de assistência básica”, lamentou Quembo.

Outra idosa, identificada por Liesa Gomes, que também vive de esmolas e ajuda mútua entre os que estão na mesma condição, expressou a sua indignação, ao afirmar que o Governo não canaliza a ajuda aos desfavorecidos.

“Há muitos idosos que estão a morrer devido à falta de comida e ao desgosto da situação em que se encontram. Quando amanhece começa sempre um novo desafio… e, com lágrimas nos olhos, temos de ir à procura do sustento”, lamentou.

Afirmou que foi forçado a deixar a casa onde morava com a filha em resultado de desentendimentos com o genro, com base em acusações infundadas. Descreve a vida nas ruas como extremamente difícil e insegura.

Para Teresa Lopes, outra idosa que mal consegue andar e que tem como refúgio nocturno uma árvore na zona da Santa Isabel, a vida também tem sabor amargo. Ela relata ter sido expulsa de casa acusada injustamente de feitiçaria. Com lágrimas nos olhos, clama por ajuda às autoridades e acrescenta que há muita violência contra os idosos dentro das casas.

“Viver na rua é um desafio muito grande. Todos os dias enfrentamos situações complicadas. Às vezes somos agredidas por malfeitores para nos tirarem o pouco que juntamos com muito sacrifício”, lamentou. 

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