Segunda-feira, 29 Abril, 2024
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Belas Memórias: A Cidade das cozinhas

Por admin-sn
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ANABELA MASSINGUE –(anmassingue@gmail.com)

POUCO a pouco Maputo vai perdendo o título da cidade das Acácias porque, em muitas zonas, estas árvores tendem a desaparecer por várias razões. Desde a acidez da urina, que as mata de forma lenta, à acção dos ventos sobre as velhas.

Há pontos da urbe já “carecas”, literalmente porque as acácias, de cor rubra, não se fazem mais presentes em passeios da cidade que vai ficando descaracterizada à medida que o tempo passa.

No lugar da vegetação vão surgindo, também de forma paulatina, focos de laboratórios de alimentos a céu aberto, junto às paragens, sobretudo nos terminais de autocarros. Lava-se tudo nos passeios e as águas sujas escorrem, acumulando-se nestes espaços, eventualmente estratégicos para o negócio por concentrar um grande número de pessoas a todo o momento.

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Em Maputo, cozinha-se, sim, sobretudo às primeiras horas da manhã, nos passeios em cozinhas de papelão ou madeira, improvisadas, para travar a corrente sobre os fogareiros a carvão e para a protecção dos alimentos da poeira. As bengas soam de esquina em esquina, onde existe até uma espécie de empreitadas de duas, três ou mais pessoas a preparar a massa para as badjias do “pão nosso de cada dia”.

Antes mesmo do sol raiar, o fumo denuncia tudo isto para quem mais cedo entra na cidade de Maputo, para ajudar a atiçar o fogo, mais rapidamente, os fogareiros são até pendurados em pilaretes, estruturas que vêm sendo montadas nos passeios por proprietários de estabelecimentos, com a autorização das autoridades municipais para impedir a invasão destes espaços por viaturas, cujo parque conheceu um crescimento exponencial nos últimos tempos.

As saladas são expostas também ao relento e se o negócio floresce é porque, definitivamente, existe um segmento da população que dele depende, o que vai estimulando novos membros que, de locais distantes, entram pela cidade adentro, em busca de sobrevivência a todo o custo.

É a luta de sobrevivência dos que vendem e dos que compram estes alimentos para matarem a fome e renovar as energias para o trabalho, a fim de garantir renda para os seus.

Aos confeiteiros de rua já é cobrado, à semelhança de outros informais, uma taxa por estarem a desenvolver a actividade num espaço público. Entretanto, neste exercício que vai ganhando corpo, a nossa cidade capital está a ter uma nova característica. Um dia poderá ser chamada também de Cidade das Cozinhas.

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